RONDONOTICIAS: Coronel, a greve na Polícia Militar durou cerca de 10 dias. O que motivou a greve e como foi a adesão da tropa?
Coronel César: Me permita começar fazendo um retrospecto do que ocorreu
nesses 10 dias de greve. O movimento começou às seis horas da manhã do
sábado (03), quando houve o fechamento do 1º e do 5º batalhões, na
capital, com as esposas dos policiais militares.
A partir do momento que tivemos ciência daquele fato, nós tomamos
providências para enfrentar a situação. É importante que a população
tenha conhecimento de que já estávamos fazendo as tratativas a respeito
do reajuste salarial da PM há algum tempo, mais efetivamente nos dois
últimos meses, quando a equipe do Governo, das secretarias de Finanças e
de Segurança, e também os comandos da PM e dos Bombeiros, se reuniram
periodicamente tratando essencialmente dos números.
Quando nós assumimos o comando da corporação, iniciamos uma tratativa,
mostrando a nossa realidade e, obviamente, sabedores de que o Governo
estava iniciando uma nova gestão, com o orçamento do ano anterior, nós
haveríamos de, nesse primeiro momento, realizarmos estudos, para
apresentarmos as necessidades, até em termos percentuais mesmo. E foi
isso que sempre foi tratado.
Uma das associações, a Assfapom, ela passou a ventilar que havia sido
colocado um percentual de reajuste de 44%. Na verdade, esse índice era a
defasagem salarial dos policiais militares, comparado com as outras
forças policiais do país. Isso era um percentual para estudo, ficou
muito bem claro. Obviamente, que o Governo iria trabalhar isso para
chegar a um percentual dentro das possibilidades do Estado.
RONDONOTICIAS: Comandante, em relação a essas paralisações,
naturalmente que ela precisa da negligência de alguém, pois se trata de
policiais. Quando há essas paralisações, o comando identifica quem
negligencia para que as esposas tomem os quartéis?
Coronel César: Não tenha dúvida disso. Vamos fazer também aqui uma
retrospectiva de movimentos anteriores. O primeiro manifesto foi em 1993
e por ocasião daquele movimento, nós tínhamos apenas as associações
representativas de classe, que todas as policiais militares as tem: a
representativa de oficiais, a de sub-tenentes e sargentos e de cabos e
soldados. Assim era subdivido essas representatividades de classe.
Mas, a partir daquele momento nós tivemos aí o surgimento de
associações que representam os familiares dos policiais militares. A
primeira delas foi a Associação das Esposas. A partir da criação dessa
entidade, passamos a ter o emprego, ou modo de operação dessas mulheres,
fazendo o fechamento de quartéis, esvaziamento de pneus de viaturas e
assim por diante.
Com relação à pergunta, esse movimento se iniciou com as mulheres. As
associações até fizeram questão de deixar claro que se tratava de uma
comissão de esposas. Mas, deliberadamente, já tivemos ali a presença do
presidente da Associação Assfapom e também a presidente da Assesfam.
RONDONOTICIAS: Quando elas deflagram a greve, porque não são presas imediatamente?
Coronel César: Veja bem, nesse momento, temos ali a possibilidade de um
confronto. Porque estão as mulheres em frente aos quartéis e obviamente
que àqueles maridos das mulheres estarão nas proximidades, se não na
frente dos quartéis, como ocorreu em abril último. Os maridos PM's ficam
nos arredores, de carro, de motocicletas, auxiliando elas.
Então a deliberação ou decisão da desocupação de imediato da unidade
precisa ser tomada, pois pode ocorrer um confronto entre os policiais
militares de serviço, que não aderiram ao movimento, com os maridos ou
com as esposas. Por isso, que a gente trabalha com a questão da
negociação, de fazer o entendimento ocorrer, como acabou acontecendo.
RONDONOTICIAS: Coronel, enquanto os policias estiveram em greve, como ficou a segurança da população?
Coronel César: Quero antes abrir um parênteses aqui para explicar o
seguinte: enquanto estávamos no processo de negociação, uma das
entidades, a Assfapom, se afastou das negociações. As demais entidades
continuaram negociando e inclusive na sexta-feira (02), anterior à
paralisação, eu estive reunido com as associações Assesfam, Aspomil e
Aspra, por três horas.
Saímos dessa reunião com uma aceitação, por parte dessas entidades, do
percentual de reajuste de 12,6% que havia sido anunciado pelo Governo.
Ficou acertado ainda um contato direto com o governador, no dia seguinte
às 16 hs. Essa associação que se afastou, simplesmente no sábado pela
manhã deflagra o movimento.
A Força Nacional, policiais militares, a COE e também o Exército,
garantiram a segurança da população durante a paralisação. Nos antevemos
e conseguimos junto ao Exército a liberação do espaço para o
recolhimento de viaturas e de armamento dos policiais, impedindo assim
que eles fossem aos quartéis.
RONDONOTICIAS: Quebrou o acordo então?
Coronel César: Ela estava fora das negociações. Não se pode falar em
quebra de acordo, já que ela não estava continuando nas conversações com
o Governo.
RONDONOTICIAS: É verdade que o Governo havia prometido 44% de reajuste?
Coronel César: A verdade é aquilo que disse agora há pouco: não houve
esse comprometimento de ninguém. Esse foi um percentual de reajuste que
estava em estudo, que seria tentado levar a efeito, ao longo dos quatro
anos de Governo.
RONDONOTICIAS: Quanto ganha um policial no início de carreira?
Coronel César: É importante frisar que com o aumento de 12,6% e o
reajuste de todo o funcionalismo, em abril de 2013 o valor do salário do
policial militar, já bem próximo da PEC 300, em torno de R$ 3 mil.
RONDONOTICIAS: Hoje é quanto coronel?
Coronel César: O salário do policial hoje, bruto, é em torno de R$
2.500 a R$ 2.600, somando-se o soldo, o auxílio fardamento, auxílio
saúde e auxílio alimentação.
RONDONOTICIAS: Ao seu ver, é um salário justo?
Coronel César: Todos nós, a sociedade, e eu me incluo nela, concordamos
que a Polícia deveria ser melhor remunerada. Não há uma remuneração no
padrão do trabalho que o policial desenvolve. Agora, temos que ter a
responsabilidade e ressaltar que o Governo está de portas abertas e
negociando com a categoria. O Governo está de portas abertas e o comando
está de portas abertas para o diálogo.
RONDONOTICIAS: O Governo manteve a proposta de 12,6%, que acabou sendo
aceita pelos policiais militares. Como será dado esse reajuste?
Coronel César: Serão três parcelas de 4,2%. A primeira em janeiro de
2012, a segunda em outubro e mais 4,2% em abril de 2013. Além desse
percentual, os policiais terão direito ao percentual que será dado aos
demais servidores estaduais, que pode ser em torno de 6% em 2012.